quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ivana Arruda Leite

Gente! Desculpa ter sumido... mas também, acho que ninguém le meu blog.
Enfim, vou retornar com um texto muito legal que li num livro chamado "25 mulheres que estão fazendo a nova lieratura brasileira''. É de autoria da Ivana Arruda Leite. Mas me esqueci do título. Desculpem.

Mas amei, espero que gostem.




   "Já me sentindo um caroço morto no canto do prato, atendo a porta de casa e lá está ele sorrindo o sorriso mais lindo do mundo, aqueles olhos, ai meu deus aqueles olhos dele. Ficamos bêbados e ele me deu um tapa na cara. "Sua filha da puta. Você é minha. Minha, entendeu? Minha!" Entendi. Fomos para o bar, ligamos a jukebox e ficamos lá no sofá de zebrinha escutando Sonics. "Oh baby, you're driving me crazy'. Estávamos ficando loucos, os dois. Ele por causa de mim, eu por causa dele, nós dois por causa da namorada. Uma namorada de seis anos não se larga assim. Eu discordava, foda-se a sua namorada, foda-se tudo, vamos fugir daqui. Nós bebíamos demais e brigávamos, rolávamos pelo chão e acabávamos trepando. A síndica reclamava. Cartas chegavam reclamando do barulho. Os dias passando, o telefone tocando e ele finalmente contando tudo para a namorada. Lágrimas, escândalo. Queria conversar comigo e me dizer "umas poucas e boas". O quê, exatamente? Deveria me desculpar por amar o namorado dela? Deveria me sentir culpada? Não desculpe, eu não sou assim, eu vou lá e pego, porque ele era meu, ele nasceu para mim, me desculpe, você está sentada no meu lugar, garota. Ele chorava e dizia que não queria fazer ninguém sofrer. Eu olhava e queria chorar também, porque todo mundo estava sofrendo demais e tudo era horrível e lindo. Ele dormia comigo e saía correndo de manhã, morrendo de culpa.
    Até que um dia ele ficou. Quatro, cinco da tarde de segunda-feira. Ele ficou. O dia inteiro enroscado nos lençóis comigo, a noite inteira e mais uma manhã. Foi ficando. Voltava todos os dias. Nunca mais foi embora. Agora ele está ali, deitado na cama, na nossa cama, cuidando da nossa filha enquanto os ônibus e a vida passam. E a síndica parou de reclamar."



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